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quinta-feira, 22 de abril de 2010

A volta do investimento

Júlio Gomes de Almeida - Professor de Economia da Unicamp
16/04/10 07:13
http://www.brasileconomico.com.br/noticias/a-volta-do-investimento_80768.html

A crise interrompeu um ciclo de investimentos que se desenvolvia no Brasil. Mas, na medida em que seus efeitos foram controlados, não foi removida a perspectiva favorável que nutre a decisão de investir, vale dizer, a expectativa de um mercado em expansão que torna possível ao empresário antecipar uma atrativa rentabilidade do capital.

Por isso, assim que a economia mostrou sinais de que deixava o pior para trás, a disposição de apostar no futuro reapareceu e a "febre" de novos projetos foi revivida.

O risco de interrupção de um processo como esse que é difícil de ser desencadeado deveria merecer avaliação cuidadosa pelo governo antes de voltar a elevar a taxa de juros.

No setor industrial o retorno ao investimento é generalizado e, a despeito do forte aumento da demanda, já se mostra capaz de estabilizar a utilização da capacidade produtiva em um nível confortável como 84%.

A Fiesp divulgou nessa semana o resultado de um levantamento sobre a intenção de investir da indústria em 2010. Apurou um aumento de 26% sobre o ano anterior. Antes, uma pesquisa da CNI mostrou basicamente o
mesmo, ou seja, que o investimento está em franca aceleração.

Isso pode assegurar o atendimento da demanda sem pressões sobre os preços e, simultaneamente, confere atratividade a novos investimentos que irão agregar capacidade de produção à economia. Em outros setores, como infraestrutura e habitação, é também muito significativa e disseminada a disposição de investir.

Mas, dada a virtual ausência de crédito de longo prazo no sistema bancário do país e as limitações do mercado doméstico de ações e de títulos corporativos, o presente ciclo de inversões pode esbarrar em limitações do
financiamento.

As operações do BNDES e do sistema de poupança vêm preenchendo parcialmente a lacuna do financiamento doméstico e, por isso, são absolutamente indispensáveis, mas podem não ser suficientes quando há uma grande evolução das inversões e consequente aumento da demanda por recursos de longo prazo.

O BNDES vem suprindo as maiores necessidades de fundos mediante uma grande colocação de títulos de dívida pública que talvez encontre um limite proximamente. No caso da habitação, o sistema em vigor se beneficiou da maior captação de depósitos de poupança durante o período de crise, mas esse impulso pode perder força, enquanto a demanda de financiamento do setor pode vir a crescer ainda mais.

Em suma, reduzir de modo significativo a escassez de fundos de longo prazo é condição importante para que o ciclo de investimentos tenha sequência.
Existem lacunas nesse ciclo que precisam ser apontadas, por exemplo, na exportação e na inovação.

No primeiro caso, o câmbio valorizado e outros fatores elevam o custo de produção no país e impedem que decolem os projetos da área; no segundo, os investimentos irão aumentar à medida que o crescimento econômico mostre maior sustentação, mas incentivos mais eficazes poderiam ajudar a antecipá-los.


Julio Gomes de Almeida é professor de economia da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

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